Os consumidores assumiram o protagonismo nas relações com empresas e estão cada vez mais exigentes. Todos os segmentos da economia estão passando por intensas transformações para trazer ofertas cada vez mais direcionadas objetivando atender as reais necessidades do cliente. O setor financeiro, de modo geral, era caracterizado por um serviço de massa, padronizado e com pouca segmentação. Nos últimos anos enfrenta uma verdadeira revolução e, atendendo as novas exigências e oportunidades de mercado, passam a oferecem experiências cada vez mais personalizadas, ágeis, seguras e com rejeição a burocracias excessivas.
Com a aterrissagem das novas tecnologias em solo nacional, neobanks e bancos tradicionais elevaram a novo patamar a disputa pela atualização tecnológica. A interoperabilidade e parcerias estratégicas com fintechs, regtechs e outros fornecedores nativamente digitais se mostram como a melhor rota para a rotina de instituições mais convencionais. Os avanços do Open Banking e o grande engajamento para sua implementação pelo órgão regulador (Bacen), promete tornar o setor mais competitivo e aberto, favorecendo e empoderando o consumidor, com mais ofertas, melhores serviços e opções.
“Open Banking é a revolução de Meios de Pagamento; o início de uma nova era de formas de as pessoas usarem seu dinheiro e se conectarem com outros mercados. No Brasil, a última fronteira para transferência de informações financeiras; bancárias, de uma entidade para outra, reguladas pelo Banco Central”, diz a liderança feminina com experiência de dois anos e meio à frente de um dos comitês mais ativos da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O); Loise Nascimento. A executiva assumiu o comitê de Meios de Pagamento & Fintechs entre 2017 e 2018; o comitê protagoniza relevantes debates público que fomentam a Inovação em Serviços Financeiros e conta com alta adesão, não só de empresas financeiras no Core Business, como também de Marketplaces diversos que passaram a agregar novos ofertas e facilidades ao usuário em seus aplicativos; movimento de “Fintechzação” multisetorial o qual a associação representa na prática com membros como Mercado Livre, Movile, B2W, OLX, Peixe Urbano, MAG Finanças, Via Varejo (banQi), Rappi, dentre outras.
Pilotos e tripulantes do onboarding digital
“Como associação levamos informações e exemplos de como empresas de tecnologia (mesmo às que não têm o escopo específico de meios de pagamento) podem ser afetadas por determinada circular que o Banco Central soltou; quais oportunidades ela traz. Para as que desejam terceirizar a área de pagamento, mostramos como é possível apoiá-las com alternativas e melhores práticas. O comitê entende quais as principais dores do mercado. O maior objetivo é disponibilizar formas de prevenção; tanto sob aspecto regulatório quanto do ponto de vista de negócio”, explica Loise Nascimento, que também assina como Head of Legal da MovilePay, empresa que se tornou independente em 2018 ao integrar o ecossistema Movile; formado por um grupo de nativas tech que trabalham em conjunto para atingir crescimento exponencial no mercado global com meta e propósito ambiciosos, sob a liderança do executivo fundador e atual CEO, Patrick Hruby (ex-Facebook).
“O objetivo do grupo, que continua quente e forte, foi o grande motivador para eu entrar para o time Movile; melhorar a vida de 1 bilhão de pessoas. A vertical de Meios de Pagamento somou valor ao potencial dos serviços que as empresas do grupo já ofereciam. Com o serviço de pagamento agregado, nosso propósito é levar ao usuário final uma experiência diferenciada, justa, simples e eficiente. Comecei minha trajetória no grupo Movile com o desafio de estruturar a conexão das empresas com o regulatório e mantenho essa perna firme; após ter acompanhado a constituição e abraçado a área de Legal da MovilePay”, conta Loise.
“Minha entrada na Movile coincide com o momento em que assumi a liderança do comitê ABO2O (entre 2017 e 2018), época em que debates sobre Meios de Pagamento no ecossistema eletrônico eram incipientes. Era raro encontrar alguém para falar com propriedade sobre o tema; justo quando o mercado de marketplaces buscava respostas e adequação em relação à grade centralizada; a integração com a CIP – Camara Interbancária de Pagamento, que se tronou pauta relevante para o setor (com repentina circular para cumprir). Imaginamos que isso seria só o começo. Não tardou para as pautas ficarem muito grandes”, relembra Loise.
Decolando de novo patamar, com destino à revolução e emoção
Cresceu a necessidade de o comitê desenvolver políticas preventivas e formar cultura no setor. “Como eu tinha experiência no segmento de Meios de Pagamento, concorri à cadeira de liderança do Comitê e conquistei a posição. Orientamos como o setor deve agir, interpretar o mercado e até acionar o regulador. Uma jornada incrível; isso tudo aconteceu em cerca de dois anos, mas parece que foram dez olhando o quanto avançamos. Amadurecemos ao ponto de ter clareza sobre nosso protagonismo nas conquistas do setor que sanam as dores do mercado. Aprendermos como levar nossas questões e agenda propositiva ao órgão regulador”, complementa.
“Hoje, os reguladores querem nos escutar e entender o que dizemos: temos informações e modelos que podem acessar; apresentamos formas diferentes de aplicar uma tecnologia. O Banco Central estava habituado a ter repositórios data center e era o que buscava ao entrar numa empresa. À medida que evoluímos para um modelo diferente, temos que mostrar ao regulador que ele também funciona; armazenar informações do core em nuvem, por exemplo, é eficiente. Essa proatividade gera mudança, tanto que o Bacen se abriu às novas práticas. Uma abertura conquistada por meio da estrutura mais organizada, pautas mais claras e abordagens direcionadas, colocando os problemas mas também levando soluções. Temos uma cultura ágil, comparada à de entidades tradicionais que levam mais tempo para chegar a esse estágio de segurança”, exemplifica. Prova disso é que o processamento e análise estratégica de grandes volumes de dados que a computação em nuvem oferece se confirmou uma das principais tendências para o setor financeiro em 2020; conquistando a confiança de serviços financeiros, que antes limitavam seu uso para dados que não eram do core. Além disso, custos decrescentes para armazenamento nesse modelo permitem às empresas escalar com mais facilidade.
Não vai ter aglomeração mas vai ter reunião, prevenção e inovação
Um cenário paradisíaco visto de longe, mas desafiador para quem está a bordo: não é fácil pilotar; tracionar em meio às turbulências de céu claro e corrigir a rota em pleno voo. Há muita responsabilidade pairando sobre as decisões estratégicas. Essa atmosfera de desafios constantes, prazos apertados, ambientes flexíveis que demandam agilidade e soluções para velhas dores é o habitat de inovadores; incluindo lideranças de Meios de Pagamentos & Fintechs já familiarizados com ambientes altamente pressurizados. “Já tínhamos uma rotina digitalizada por meio de videoconferências antes de a pandemia chegar. Agora os encontros são 100% digitais. Assembleias continuam mensais e quando surge uma pauta urgente criamos um subgrupo para debater a demanda específica. Na prática, o que mudou no cenário pós-Covid-19 foi a intensificação da agenda, com encontros virtuais semanais ou quinzenais. O diálogo é diário pelos chats; sobre publicações na mídia, estudos e pautas para atualização e alinhamento” esclarece Loise.
“Difícil elencar, mas as pautas predominantes do comitê na atualidade são PIX, Open Banking e verticalização do setor, ligada ao movimento que a associação iniciou no CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que debate o compartilhamento de informações e dados relacionados à ecossistemas centralizados, competição e debates anticoncorrenciais. Open Banking porque precisamos avançar no debate que é global; definir oportunidades e apoiar o nascimento do ecossistema no Brasil (garantir que as empresas do setor que representamos tenham algum tipo de interação; seja agora ou no futuro). E PIX por conta do contexto de pagamento, que deve mudar, alguns produtos (como cartões de crédito e débito, por exemplo), deixarão de existir em alguns anos; conclui.
O futuro do mercado financeiro brasileiro, por um PIX
Tanto as tendências quanto as perspectivas e os desafios do setor de Meios de Pagamentos devem fazer um movimento de convergência conforme queimam etapas individuais. “Acredito que com os lançamentos de novos players tentando acessar o ecossistema do PIX, a privacidade de dados, que já era uma pauta muito importante, vai ficar ainda mais forte. O Banco Central afirma que todas as questões relacionadas ao produto respeitam a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), mas é preciso analisar com cautela como vai ser a fiscalização. O ponto principal é que temos um cenário instável sob aspecto jurídico em relação a essa lei; ainda não está claro quem será a autoridade para fiscalização: tanto das empresas que estão prestando serviço dentro desse ecossistema como do próprio regulador, o governo”, pondera.
Diante da articulação do órgão regulador para engajar mais pessoas no sistema financeiro brasileiro e a tecnologia prestes a “virar a chave” no mindset, Loise aposta na transformação da cultura do consumidor com relação ao uso de dados; conscientização em relação às informações que ele dá, para quem e a forma como ele faz isso. Na Europa (Reino Unido – UK), o Open Banking opera há dois anos. Já debatem Open Finance; uma evolução do Open Banking; quando uma pessoa pode oferecer suas informações financeiras para outros mercados e obter crédito após um único clique (que autoriza transferir todos os dados financeiros dela em todas as redes em que possui conexão e permite uma análise quase imediata do perfil). Quando o Open Banking decolar será possível trocar uma instituição financeira por outra que ofereça vantagens mais adequadas ao perfil de cada um. Hoje, falamos de PIX e Open Banking de forma separada, mas em cerca de dois anos estarão conectados. Os sistemas estão sendo construídos para alçarem voos juntos”, finaliza Loise.