Principais entidades e empresas da economia digital reuniram seu aprendizado para contribuir na construção de cidades mais humanas, sustentáveis e integradas
A pandemia da Covid-19 transformou de forma permanente como as pessoas se locomovem. Com as medidas sanitárias divulgadas pelas autoridades públicas, o aumento da digitalização se tornou uma oportunidade para micro e pequenas empresas, que identificaram no delivery uma opção para manutenção de seus negócios durante o período. Além disso, a busca de alternativas para realizar deslocamentos de forma mais segura, evitando grandes aglomerações, encontra na micro mobilidade e nos transportes por aplicativo opções para realização desses trajetos.
Diante deste cenário, a Associação Brasileira Online to Offline, ABO2O, que representa mais de 100 plataformas da economia digital, desenvolveu com os seus associados e em parceria com a UNESCO, o Guia de Mobilidade Urbana e Delivery pós-Covid-19. Com propostas elaboradas por especialistas, acadêmicos e representantes da sociedade civil, propõe a construção de políticas públicas mais modernas e eficientes para a mobilidade urbana brasileira.
“Existe uma preocupação sustentável com o Brasil e acreditamos que é possível construirmos uma mobilidade urbana do futuro, em que serviços públicos e privados se conectam. Se o poder público, setor privado e a sociedade civil se unirem, acredito que possamos atingir metas palpáveis no curto, médio e longo prazo”, explica Vitor Magnani, presidente da Associação Brasileira Online to Offline.
O Guia traz possíveis medidas de boas práticas e políticas públicas já implementadas em diversos países, como fechar ruas para veículos, ampliar calçadas, construir ciclofaixas e investir na infraestrutura para pedestres e compartilhamento de bicicletas. Além disso, são apresentadas medidas para alcançar a multimodalidade nas cidades, o que passa por otimizar o uso do meio fio, criar áreas de embarque e desembarque, democratizar o espaço urbano para os modos de transporte mais sustentáveis e eficientes, tarifar o congestionamento, e ainda, promover a integração dos meios de pagamento.
“O futuro da mobilidade não passa pela lógica de locomoção centrada no automóvel, que gera problemas como congestionamentos e emissão de poluentes. As cidades inteligentes e sustentáveis necessariamente encontrarão a solução na multimodalidade, que repensa a forma como organizamos o planejamento urbano. Por isso, no Guia de Mobilidade Urbana e Delivery pós Covid- 19, convidamos os gestores públicos e a sociedade civil a unir forças na construção de cidades do futuro, pensadas para as pessoas e desenvolvendo políticas públicas de fomento à integração e à intermodalidade”, comenta Lilian Lima, líder do Comitê de Mobilidade Urbana da ABO2O, e Gerente de Políticas Públicas na 99.
Entenda o Guia de Mobilidade Urbana e Delivery pós-covid:
O Guia traz propostas elaboradas por especialistas, acadêmicos e representantes da sociedade civil, para a construção de políticas públicas mais modernas e eficientes em todas as nossas cidades. São quatro pontos principais sobre como a agenda de mobilidade urbana pós-Covid-19 deve ser estruturada: cidade do futuro, mobilidade multimodal, impacto econômico e regulamentação eficiente.
- A cidade do futuro
As novas tecnologias criam milhões de oportunidades de geração de renda, movimentam a economia, ajudam o Brasil a se tornar um país mais digital e contribuem para construção da mobilidade do futuro. Há pouco tempo, o conceito de smart cities estava à frente do debate quando se desenhava políticas públicas de mobilidade urbana. Atualmente, o conceito que integra essa ideia é o MaaS, Mobilidade como Serviço, que significa colocar o passageiro no centro das atenções, oferecendo um melhor serviço e experiência de forma personalizada e integrada, atraindo usuários de automóveis particulares a um comportamento mais multimodal e eficiente. Isso se torna possível por dois meios: a conexão física entre diversos meios de transportes, como metrô, ônibus, bicicletas, automóveis e a integração de pagamento, com um único cartão para todas as plataformas.
- Mobilidade multimodal
A disseminação das novas tecnologias e serviço de transporte sob demanda está transformando os centros urbanos em direção à estruturação de cidades multimodais. As plataformas de intermediação de transporte têm levado as pessoas a diminuírem o uso dos carros próprios, reduzindo a necessidade por estacionamentos e reduzindo os engarrafamentos. Para que as cidades se tornem cada vez mais multimodais e menos centradas no automóvel particular, é necessário a implementação de medidas tais como integração de meios de pagamentos, criação de área de embarque e desembarque, e ainda, a construção de políticas públicas que democratizem o espaço urbano, dando prioridade ao transporte ativo e coletivo, otimizem a utilização do meio fio e diminuam as externalidades negativas criadas pelos congestionamentos nas grandes cidades.
- Impacto econômico positivo
Novas tecnologias contribuem para o desenvolvimento econômico, geram renda e estimulam uma cadeia produtiva, além de impulsionar a construção de cidades mais integradas e multimodais. Exemplo disso são os aplicativos de transportes e o aumento de bicicleta nas ruas. A 99, uma das empresas associadas da ABO2O, foi responsável por cerca de R$12,2 bilhões do PIB nacional e gerou mais de 108 mil empregos indiretos em 2019. Já os entregadores cadastrados nos aplicativos da Loggi e Rappi, geraram uma renda duas vezes maior do que os motofretistas celetistas. Isso se aplica também para os cicloentregas, prática comum nos dias de hoje, que passam a ter uma oportunidade de renda fixa e deixam de sofrer com os altos índices de desemprego no país.
- Regulamentação eficiente
A regulamentação das novas tecnologias de transporte não se aplica às agendas tradicionais. É necessário tratar a economia digital como algo novo, como um ecossistema em que prevaleça a liberdade de escolha dos usuários, a possibilidade de gerar múltiplas fontes de renda para motoristas e entregadores parceiros, que possuem horários flexíveis e autonomia para exercer suas atividades, dentre outros aspectos. Por isso, o Guia sugere uma regulamentação eficiente para as novas tecnologias, com foco em garantir uma livre iniciativa e concorrência na liberdade de modelo de negócio.
“Nos últimos anos, a visão de cidades inteligentes ganhou novos contornos e originou o conceito “MIL cities” proposto pela UNESCO, que supera “Smart Cities”, ao alicerçar cidades que aplicam novas tecnologias conectadas à responsabilidade social e ao desenvolvimento humano sustentável, cocriadas de forma ética e transdisciplinar, entre poder público, iniciativa privada, startups, academia e sociedade civil. Tudo vinculado com a Agenda 2030. O GAPMIL apoia iniciativas que orientem as melhores práticas, como o Guia da ABO2O, com propósito de orientar os próximos passos do setor rumo ao cenário desafiador desejável e promissor de mobilidade urbana em um País com mais de 5000 cidades e dimensão continental como o Brasil”, completa Prof. Dr. Felipe Chibás Ortiz, Representante para a América Latina e Caribe do GAPMIL-UNESCO
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