Líder do Comitê de Mobilidade Urbana e especialistas debatem estudo sobre distribuição do espaço e dos deslocamentos em São Paulo

Realizado em parceria com a Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), o estudo “Distribuição do Espaço e Deslocamentos em São Paulo: uma análise da infraestrutura, viagens e segurança viária na cidade” do Instituto Cordial faz parte do Painel da Segurança Viária, iniciativa que busca criar espaços de discussão e desenvolver estudos neste campo baseada em evidências, a fim de contribuir para a orientação de políticas públicas e ações voltadas à mobilidade segura.

“É muito interessante fomentar debates mais qualificados, dialogar com outros stakeholders como o poder público e a sociedade civil para realmente impactarmos a mobilidade nas cidades e as suas construções. Esse é o objetivo final do estudo. É riquíssimo a gente pensar em mobilidade urbana com dados e poder construir políticas públicas. Mais importante ainda é a gente colocar tudo isso para ser debatido e fazer parte da construção das cidades que todos queremos”, explicou Lilian Lima, líder do Comitê de Mobilidade Urbana da ABO2O.

 

“É riquíssimo a gente pensar em mobilidade urbana com dados e poder construir políticas públicas. Mais importante ainda é a gente colocar tudo isso para ser debatido e fazer parte da construção das cidades que todos queremos”

 

Segundo Meyer, “o sistema de mobilidade deve ser seguro, concebido de forma a reduzir os riscos de lesão grave ou morte em caso de sinistro de trânsito, ou seja, não é simplesmente uma questão de comportamento, mas de política pública, de como a gente lida com a construção das nossas cidades”.

 

“O sistema de mobilidade deve ser seguro, concebido de forma a reduzir os riscos de lesão grave ou morte em caso de sinistro de trânsito”

 

Uma série de elementos compõem o conceito de Sistemas Seguros como opções de mobilidade, planejamento do uso do solo, educação e capacitação, gestão de velocidade, fiscalização, leis e regulamentações, projeto e tecnologia de veículos, desenho de ruas e engenharia e resposta de atendimento de emergência pós-acidente.

 

Principais conclusões do estudo

– Padrões distintos de urbanização implicam desafios diferentes na cidade. Há diferentes possibilidades e necessidades de intervenção e redistribuição dos espaços urbanos.

– Locais com muito espaço público e ruas largas indicam boas possibilidades de intervenção. Mas temos uma dificuldade estrutural maior em áreas fora do centro, mesmo com boa conectividade.

– A maior parte das viagens se concentra onde há mais emprego e renda nas áreas centrais, gerando incentivos para mais investimentos no centro, em um ciclo vicioso. Importante fomentar subcentralidades com infraestrutura e projetos inovadores de espaços públicos.

– O last mile agrega a maior parte das viagens e da infraestrutura no centro, mas há menos cobertura nas regiões periféricas. A infraestrutura precisa vir antes de modos de transportes ativos, como calçadas e ciclovias, considerando que, aqui, oferta gera demanda.

 

“O estudo é muito inovador em termos de informações sobre mobilidade urbana e infraestrutura e mostra a complexidade do tema. Os indicadores revelam que os distritos são muito diferentes entre si, mostrando os perfis de distintas urbanizações”, pontuou Marina Pereira, analista de Articulação e Rede do Painel de Segurança Viária do Instituto Cordial. Mas quais as implicações dessa heterogeneidade que os mesmos espaços devem receber diversos elementos urbanos, de diversas agendas sociais, ambientais e econômicos?

 

A ressignificação dos espaços urbanos

 

Segundo Fábio Mariz, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP-SP, até os anos 1980, entendia-se que rua não era um espaço livre, mas para carro, da mobilidade e do deslocamento. “Isso estava tão impregnado nos pensamentos dos corpos técnicos das prefeituras, sociedade e universidades que se aceitou com tranquilidade o estreitamento de calçadas como algo necessário”, disse. Ou seja, se fosse necessário instalar um corredor de ônibus, por exemplo, tirava espaço da calcada. Para o carro andar mais rápido, tiravam as faixas de pedestres para diminuir os pontos de travessia. E assim por diante.

 

Consequentemente, Mariz explica que todas as cidades do mundo tiveram seus espaços públicos comprometidos pelos carros, mas que, atualmente, assiste-se a uma mudança de agenda.

 

“Hoje se reconhece que os espaços públicos devem ser associados aos sistemas viários e que o conceito de mobilidade precisa ser compreendido de forma mais ampla, entendendo como um território de pedestres, de ciclistas, do cadeirante, da terceira idade, das crianças, etc.”

 

Ruas completas (e para todos)

Mas como lidar com esses espaços se a governança não é unificada? Que tipos de ações as políticas públicas podem considerar para lidar com os desafios, especialmente nas regiões periféricas, que apresentam características tão distintas dos centros urbanos? A primeira coisa que atrapalha na Segurança Viária, segundo Paula Santos, gerente de Mobilidade Ativa no WRI Brasil, é a velocidade.

 

“Tem um diretor da WRI Índia afirmou que a solução para mobilidade ativa está nas calçadas, travessias e velocidade. É necessário ter uma infraestrutura, mas se a diferença de velocidade entre os usuários que estão utilizando aquela rua, como um veículo e um pedestre, não for tão grande, a chance de ocorrer um acidente fatal é mínimo”, disse Paula.

 

“Gosto de trabalhar com o conceito de ruas completas, que consiste em entender a vocação da rua, o que tem de espaço para trabalhar e, em cima disso, construir soluções em torno das possibilidades.

 

Segundo Paula, as ruas de uso misto (comercial e residencial) pedem uma velocidade mais baixa, porque certamente terão muitos pedestres circulando por ali. “Nessas ruas, podemos colocar todo mundo no mesmo nível trafegando a uma velocidade mais baixa, sejam as motos, os carros, os ciclistas. Em alguns casos, é possível banir os carros de algumas vias para tornar esses espaços mais amigáveis para as crianças brincarem. Em outros, onde há muito acesso de pedestres, ciclistas, onde a acessibilidade é prioritária, 30km/h é suficiente, melhorando a convivência entre todos os usuários”.

 

Assista ao debate na íntegra abaixo. O estudo completo pode ser acessado aqui.

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