Pelo segundo ano consecutivo, a B3, Bolsa de Valores do Brasil, confirma agenda de fomento setorial e uma série de iniciativas junto as empresas da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O). Segundo Marcos Carvalho, diretor geral da associação, a instituição realiza um trabalho importante de boas práticas com empresas interessadas em adentrar no mercado de capitais. “O setor de Tecnologia e Digital têm apresentado grande destaque em IPO nos últimos anos. A B3 busca contribuir com orientações, conteúdos e suporte técnico aos associados para que conquistem ainda mais maturidade e se desenvolvam no mercado financeiro e investimentos”, disse.
2021 foi um ano de muitos recordes para o mercado de capitais. Ao todo, foram R$ 65,6 bilhões divididos entre as 46 companhias que estrearam na B3, a bolsa de valores brasileira. Os follow-ons (ofertas subsequentes ao IPO) não ficaram para trás. As 26 novas distribuições captaram R$ 65 bilhões. Os números mostram o bom momento pelo qual o setor passou no ano passado, gerando uma enorme transformação em diversos aspectos, seja no perfil dos investidores, das companhias listadas e dos valores aportados.
Além dos setores de tecnologia, saúde e agronegócio, que voltaram com força em 2021, compondo cerca de 45% das ofertas, novos segmentos desembarcaram na B3, como o de atividades esportivas, estética e serviços marítimos. A diversidade também se fez presente tanto em relação ao tamanho das empresas quanto ao volume das ofertas. Das companhias que abriram capital no período, 42% captaram recursos inferiores a R$ 1 bilhão e 60% apresentavam receita líquida anual abaixo de R$ 1 bilhão nos 4 trimestres anteriores a oferta.
Outra característica interessante que marcou 2021, foi o crescimento da base de investidores que chegaram na bolsa. Encerramos o ano com mais de 4 milhões de contas de pessoas físicas na B3, o que reflete o interesse desse investidor em acessar o mercado de capitais. “Além de entrar na bolsa com valores cada vez mais baixos, os investidores pessoa física têm demonstrado um protagonismo maior nas ofertas de ações, em alguns casos superando a marca de 50% de participação do varejo”, avalia Rafaela Araújo, relationship manager da B3.
No âmbito regulatório, a mudança na Lei das S.As. foi outro episódio que movimentou o mercado, estabelecendo a criação do voto plural, ou seja, permitindo que uma única ação tenha direito a múltiplos votos durante as assembleias gerais.
“A mudança, alinhada as melhores práticas regulatórias internacionais, prevê a criação de uma ou mais classes de ações ordinárias, sendo que uma ação não poderá corresponder mais de dez votos”, analisou Ellen Dante, da área de Relacionamento com Empresas e Estruturadores de Ofertas da B3
O Marco Legal das Startups foi outro avanço positivo, que propôs alterações que auxiliam a redução de custos e o acesso ao mercado de capitais. Além de estimular o desenvolvimento do empreendedorismo brasileiro, esta mudança fortalece o amadurecimento regulatório das startups, segundo as especialistas.
O que esperar de 2022?
Nos últimos meses do ano passado, já foi possível sentir que alguma mudança poderia ocorrer ao longo de 2022. Fatores como o panorama macroeconômico, aumento da taxa de juros, instabilidade política e aumento da inflação, além da continuidade da pandemia do coronavírus com a chegada da nova variante ômicron, geraram incertezas no mercado e impulsionaram a desaceleração das ofertas planejadas para o segundo semestre de 2021 e início de 2022.
Segundo Rafaela, pela volatilidade que historicamente antecede o período eleitoral, os investidores têm apresentado comportamento mais cauteloso e seletivo, analisando criteriosamente onde investir seus recursos.
“A expectativa é que o mercado direcione o apetite para as operações que contem com teses atrativas e que sejam menos impactadas pelo panorama macroeconômico. Assim, o volume de novas ofertas públicas deve ser menor em 2022 com algumas empresas postergando o lançamento, movimento que já temos visto com anúncios de interrupções e desistências de algumas operações que estavam em andamento”.
Para as empresas já listadas, a especialista afirma que a perspectiva é de um ano aquecido para as ofertas subsequentes (follow-ons), especialmente para as companhias já familiares aos investidores e de setores mais consolidados e perenes, ou seja, que estejam menos expostas ao cenário político-econômico brasileiro. “Já é possível ver algumas companhias iniciando este movimento, como por exemplo a BRF, que captou cerca de R$ 5,4 bilhões junto ao mercado no início de fevereiro, além de nomes como como Alpargatas, Localiza e Arezzo que já anunciaram suas ofertas de follow-on ao mercado”.
Na opinião de Ellen, diante da recente disparada nos juros, com a taxa básica de juros, a Selic, sendo elevada de 2% para 10,75% ao ano pelo Banco Central, os investidores podem se sentir atraídos novamente pelos investimentos em renda fixa. Segundo ela, a emissão de títulos de dívida deve seguir acentuada ao longo de 2022 e é possível que algumas companhias optem em realizar ofertas públicas restritas, ou seja, direcionadas a investidores qualificados, como emissão de debêntures, por exemplo. Outros instrumentos de renda fixa, tais como CRI, CRA e FIDC também podem se tornar mais atrativos.
Outro possível foco do investidor, de acordo com Ellen, pode ser em relação as operações de M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições), que tiveram um forte ano de 2021 e alcançaram recorde de volume negociado. “A tendência é que este movimento se mantenha forte ao longo do ano. À medida que as empresas aguardam uma nova janela de oportunidade no mercado, elas podem optar por trazer um novo sócio que aporte recursos para financiar seus projetos através de uma operação de fusão. Em contrapartida, as companhias que não conseguirem se capitalizar, poderão se tornar alvos de players maiores”, afirmou.