Com mais de 15 anos de experiência, Fernanda Laranja assumiu a liderança do Comitê de Fintechs e Meios de Pagamentos do Movimento Inovação Digital (MID) com alguns desafios pela frente. Um deles é participar do debate público das principais pautas que impactam as empresas associadas. “Um bom exemplo é nossa atuação para prorrogar o prazo da entrada em vigor da Resolução 269, que exige várias adequações com relação ao Pix e impactam diretamente as associadas”, disse.
Há dois anos no Mercado Livre como Gerente de Políticas Públicas, Fernanda afirma que está otimista com o setor, especialmente com o estímulo da bancarização da população proporcionada pelos bancos digitais e fintechs e pela oferta de produtos e serviços financeiros simples e seguros, sem burocracia e taxas que essas empresas oferecem.
Em entrevista ao blog, a especialista avaliou como está o atual cenário de fintechs e meios de pagamentos, contou sobre os principais desafios do segmento, como se dará a atuação do Comitê, tendências e muito mais. Confira a entrevista na íntegra:
MID – Como você avalia o atual cenário de fintechs e meios de pagamentos atualmente?
Fernanda Laranja – Mesmo em um cenário mais austero, seguimos otimistas com o setor de fintechs e meios de pagamentos. A bancarização da população está sendo estimulada, principalmente, pelos bancos digitais e fintechs e pela oferta de produtos e serviços financeiros simples e seguros, sem burocracia e taxas que essas empresas oferecem. Esse movimento contribui com a inclusão financeira da população, renda e financiamento das famílias, a partir do momento que se eleva a competitividade entre os players do setor.
Para se ter uma ideia da importância das fintechs e instituições de meios de pagamentos, a nova edição da Série Cidadania Financeira, do Banco Central, mostra que o crescimento no uso de pagamentos digitais no Brasil é responsável pela diminuição da desigualdade em indicadores de inclusão financeira. Em 2017, por exemplo, 43% do grupo de menor renda utilizavam meios de pagamentos digitais, ante 68% do grupo dos mais ricos, uma diferença de 25 pontos percentuais. Em 2021, a diferença foi de apenas 7 pontos percentuais entre os dois grupos.
MID – Quais os principais desafios do setor?
Fernanda Laranja – O principal desafio do setor é manter o ritmo de inovação e de inclusão da população. Nós temos uma extensa agenda regulatória em 2023, composta por importantes agendas, como Pix, de Open Finance, Real Digital e Recebíveis, por exemplo. Nesse contexto, é essencial o diálogo entre o mercado e regulador para que essas agendas possam refletir em produtos e serviços que atendam às necessidades dos brasileiros e melhores experiências.
Inovativos – De que forma o Comitê pretende atuar diante desses desafios?
Fernanda Laranja – O Comitê de Meio de Pagamentos vai participar do debate público das principais pautas que impactam as empresas associadas. Um bom exemplo é nossa atuação para prorrogar o prazo da entrada em vigor da Resolução 269, que exige várias adequações com relação ao Pix e impactam diretamente as associadas
Inovativos – Quais serão as principais pautas regulatórias para o setor neste ano?
Fernanda Laranja – Além de atuar para prorrogar o prazo da entrada em vigor da resolução 269, que já citei, estamos produzindo um documento para atuar na regulamentação do mercado da legislação de cripto, que foi aprovada no ano passado pelo Congresso. A partir de agora, vamos atuar junto ao Banco Central, ao poder executivo e à CVM para defender o interesse de nossos associados.
Outra pauta é a de Registro de Recebíveis. Estamos trabalhando para entrar para o comitê da Abecs, que discute a evolução desse assunto. Também estará no foco da nossa atuação neste ano acompanhar o cronograma de outras importantes agendas, como Pix, Open Finance, recebíveis e outras que possam ganhar tração ao longo do ano.
MID – O que teremos como tendências que o setor precisa se atentar?
Fernanda Laranja – Os meios de pagamentos estão sempre evoluindo e transformando o setor financeiro. O Pix e o Open Finance seguem avançando em fases futuras e, com isso, possibilitando ao mercado criar produtos e serviços que facilitem cada vez mais o dia a dia do usuário de contas e carteiras digitais.
Em relação à evolução do Open Finance, que acaba de completar 2 anos no Brasil, a tendência é de melhoria na qualidade dos dados compartilhados, e também novidades de produtos, por exemplo, voltados para as áreas de seguros, previdência e câmbio.
Ainda olhando para a agenda de inovação do Open Finance, o Banco Central está promovendo junto aos participantes do ecossistema o re direct, que permitirá que as transações sejam concluídas a partir de um único consentimento dado pelo consumidor.
No Pix, a agenda de inovações segue firme. Devemos ter, por exemplo, o desenvolvimento do Pix Automático, que deve facilitar o pagamento de contas recorrentes, como luz, água e telefonia. Além disso, a nova funcionalidade deve ser integrada ao Open Finance – integração que ainda está sendo debatida pelo Bacen e Mercado.
Por fim, há grande expectativa do mercado em relação ao Real Digital. A moeda digital está em desenvolvimento pelo Banco Central e deve ter, neste ano ainda, um piloto em produção (o lançamento mesmo está previsto a partir de 2024).