O professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Felipe Chibás Ortiz, é o novo conselheiro de Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis do Movimento Inovação Digital (MID).
Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de 29 livros publicados em diversos países, atualmente Chibás também é colíder internacional para o tema Cidades Mil em Unesco Mil Alliance.
Aliás, Chibás pretende abordar no MID muitas das pautas trabalhadas ao longo de sua trajetória em Unesco Mil Alliance. “Posso contribuir trazendo essas posições internacionais e levando o posicionamento do MID – um movimento forte e importante – para organismos nacionais e internacionais, além dos meios científicos e acadêmicos”, afirma.
Na conversa com a reportagem, Chibás destaca que trará ao MID não apenas um olhar tecnológico, “mas uma postura pós-humanista, que valorize o ser humano, as novas tecnologias e a natureza, os três no mesmo nível”. Confira a entrevista com Felipe Chibás:
MID – Como novo conselheiro de Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis, quais pautas você pretende trazer para o debate no MID?
Felipe Chibás – Basicamente pautas sobre como educar e alfabetizar uma sociedade, uma cidade, seus grupos sociais e cidadãos. Debates sobre como as pessoas podem defender seus direitos frente a empresas e governos, e também frente a outros cidadãos. Nós todos estamos construindo uma nova realidade e, tanto as empresas como os cidadãos, precisam aprender sobre como lidar com esse novo mundo, com novas formas de pagamento e de transações financeiras. Não apenas saber fazer tecnicamente, mas entender o efeito que essas ações provocarão. A postura ética transcende qualquer postura política ou ideológica. É esse novo olhar que queremos trazer para o MID, para as cidades e para a sociedade em geral.
MID – A Unesco lançou em 2018 o termo Cidades Mil para englobar todas as inovações que uma cidade pode receber e facilitar a vida do cidadão, tornando-a mais sustentável e feliz. Como está atualmente essa iniciativa?
Felipe Chibás – Cidades Mil é uma rede que cresce cada vez mais e hoje está presente em diversas cidades do mundo, inclusive Guarulhos, aqui no Brasil, além de países como México, Jamaica, Moçambique, Finlândia, entre outros. São cidades que procuram a adoção da tecnologia e da sustentabilidade ecológica, mas com muito respeito pelas diversidades culturais e étnicas, de gênero, idade, respeito e valorização das minorias, dos indígenas, dos imigrantes e das pessoas que apresentam diversidade funcional. Esse novo olhar tem o foco no cidadão simples e comum. As Cidades Mil contam com indicadores e métricas que visam o combate às fake news, deep fakes, discursos de ódio e posturas extremistas. Busca também educar as pessoas no sentido de enxergar a realidade de outra forma, não apenas digital, mas também a realidade física, com pensamento crítico e criativo. Nosso olhar é focado no cidadão que utiliza as novas tecnologias, mas não apenas isso. É preciso colocar essas tecnologias a favor dos cidadãos, das cidades e das diversidades, com ética e respeito.
MID – Sobre as pautas e iniciativas defendidas pelo MID, de que forma a iniciativa Cidades Mil pode colaborar?
Felipe Chibás – Com um olhar mais humano, tanto por parte das pessoas que trabalham em empresas de base tecnológica, quanto dos usuários desses serviços. É importante ter um olhar mais atento às diversidades, levando esse tema para o mercado e para dentro das empresas, criando equipes que respondam a essas novas demandas da sociedade. Podemos trazer para o MID não apenas um olhar tecnológico, mas uma postura pós-humanista, que valorize o ser humano, as novas tecnologias e a natureza, os três no mesmo nível. Posso contribuir muito com o MID trazendo essas posições internacionais e levando o posicionamento do MID – um movimento forte e importante – para organismos nacionais e internacionais, além dos meios científicos e acadêmicos.
MID – Um assunto atualmente em discussão no mundo todo é a inteligência artificial (IA) generativa. Como você vê essa questão nos aspectos ético, humano e tecnológico?
Felipe Chibás – Mesmo com a IA generativa, o ser humano continuará sendo essencial. Temos que utilizar as IAs, mas devemos da mesma forma alfabetizar as pessoas sobre como utilizá-las. Seu uso deve ser feito com ética, com respeito às diversidades, numa postura pós-humanista. O MID pode contribuir com posicionamentos, manifestos, orientações. É preciso transcender as barreiras culturais e promover a inovação digital sempre associada à inovação social.